Budapeste é sensacional

Faz um tempo eu queria conhecer essa cidade. O primeiro motivo de atração foi o seu nome, sem dúvida. Acho essa palavra muito sonora, engraçada e curiosa pelo fato de que foi formada pela simples junção entre as palavras que nomeavam duas cidades, cada uma de um lado do rio Danúbio, que se uniram pra formar a capital da Hungria. Eu ainda não sabia que tinha uma terceira cidade nessa fusão, Óbuda e hoje até penso que seria mais bonito ainda se fosse Óbudapeste, com um certo tom de drama teatral. De qualquer forma, já estava suficientemente atraída por muitas outras razões.

A Hungria é dona de uma história muito confusa cheia de altos muito altos e baixos muito baixos. Foi a segunda capital do império austro húngaro até o início do séc XX, quando este se dissolveu. E alguns anos mais tarde, viveu 2 regimes totalitários seguidos que trouxe muito sofrimento pra população.

Mas tudo isso fez com que ela seja o que é hoje. Seja na visão do ser humano individualmente, quer quando olhamos pra uma sociedade inteira, a nossa história é o que faz a gente, né. As marcas e lembranças estão dentro dos húngaros, mas eles são muito mais que isso. Foram só 3 dias, mas tivemos uma sensação muito agradável em lidar com eles e em ver como eles se tratam. Não percebemos qualquer peso. Em geral as pessoas muito simpáticas e solícitas. Mesmo quando não falavam inglês.

Leandro pegou um gosto pela língua húngara e eu acabei super influenciada. A verdade é que apesar de Chico Buarque falar que essa deve ser a língua falada pelo diabo, e eu não ser ninguém para discordar de Chico, achamos o húngaro falável, aprendível, com fonemas que nós brasileiros conseguimos repetir. Diferente de umas outras línguas por aí que prefiro não nomear e que ainda teríamos que lidar com. Achamos até gostosinha de ouvir! Depois do choque inicial com as tremas e acentos milhares, não é tão complicada assim. Tamo louco, gente?

Ficamos 3 dias inteiros por lá e eu achei um tempo ótimo, mas deu vontade de ficar mais sim. Quase sempre dá. Se paixão fosse escolha, Budapeste teria sido meu destino preferido nessa viagem. E esses são os motivos.


Buda: Nos hospedamos nesse apartamento maravilhoso, colado na Ópera, num ponto bem central em Peste, que fica do lado direito do Danúbio. Mas amamos atravessar a Széchenyi Lánchid (Ponte da Correntes) pra conhecer Buda. Do lado de lá tudo lindo: a Igreja de São Matias (Mátyás Templom) e suas telhas esmaltadas coloridas (acertei, Camille?), casinhas coloridas, música na praça, o Bastião dos Pescadores (Halászbástya) com seus arcos fotogênicos emoldurando a vista sobre o rio, o Parlamento e sobre o próprio bastião; árvores floridas. A primavera, aliás, trouxe uma atmosfera encantadora. Foi mágico andar pelos arredores do Castelo assistindo a chuva de flores de cerejeira caindo sobre a gente e forrando o chão de rosa, por conta do vento forte e gostoso que batia. Ficamos tão absorvidos por aquele momento que acabamos andando em círculo sem perceber e quando vimos estávamos no mesmo lugar de onde tínhamos saído. Perdidos e agradecidos.


Parque da cidade (Városliget): É uma enorme área verde bem no meio da cidade e lá dentro fica o Castelo Vajdahunyad, que foi construído para comemorar o milênio da Hungria e, justamente pra fazer referência à história do país, reúne vários estilos arquitetônicos num mesmo prédio. No centro dele, jardins cheios de tulipas. Raras e lindas, elas estavam ali aos montes enfeitando o cenário. A primavera é uma ótima época pra se conhecer qualquer lugar, mas eu amei ter escolhido justamente essa estação pra viajar pelo Leste Europeu. Do outro lado do parque, outro ponto alto de uma visita à Budapeste. Fomos conhecer os Banhos Termais Széchenyi, um dos mais famosos e antigos dessa que é a cidade com o maior sistema de águas termais do mundo e graças à dominação turca ganhou essa tradição. Foi muito relaxante (e até curativo) termos terminado o nosso dia por lá, pulando de piscina quente pra piscina fria pra piscina muito quente. Mas não deixa de ser muito engraçado, especialmente pra quem cresceu em Angra dos Reis, ver as pessoas se divertindo tanto no piscinão.


Comida: Provamos muitas delícias por lá e isso é essencial pra que eu goste verdadeiramente de um lugar. Goulash, salsichas várias, sopas com ovo pochê (paizinho fazendo comida austro-húngara lá em casa e eu nem sabia!), magret de pato (especialmente bom no Menza). Por todo lado vc vê langós, que é tipo uma pizza e o molho mais tipicamente usado é uma espécie de creme de leite ao invés de tomate. A gente experimentou uma(s) no Goszdu Udvar, uma ruazinha cheia de bares, restaurantes e cafés. No meio da tarde, capuccinos e doces deliciosos como o do Café Auguszt. E pra trazer as melhores lembranças de sempre, as que se comem, no Mercado Central encontramos uma oferta enorme de 2 produtos húngaros bem famosos: páprica e foie gras.

A rua: Budapeste é uma cidade pra se aproveitar o lado de fora. Adoro museus, mas a possibilidade de não ter compromissos e horários, só se encantar pelas coisas que iam aparecendo na nossa frente, é igualmente adorável. O tempo estava ótimo, então foi perfeito pra nossa intenção de andar e andar até cansar. No meio do caminho encontramos um piano disponível pra quem quisesse tocar e outro que virou vaso de flor. Vimos apresentação de balé contemporâneo bem em frente à Ópera. Paramos pra observar o Memorial "Sapatos à margem do Danúbio" e pensar o que devem ter sentido os judeus que tiveram que tirar seus sapatos antes de serem assassinados e terem seus corpos carregados pelo Danúbio gelado. Vimos pessoas fantasiadas e felizes andando de bicicleta num domingo de manhã.


Ruin pubs: Antes de chegar na cidade já tinha achado a ideia o máximo e chegando lá foi muito interessante ver isso de perto.  No início dos anos 2000, prédios e casas abandonados no centro da cidade começaram a ser habitados por bares e boates, trazendo gente e diversão pra uma atmosfera decadente. Pra combinar com tudo isso, os móveis e decoração trazidas pra esses lugares eram antes coisas que tinham sido descartadas por outras pessoas, dando nova função e uso a objetos que vieram do que chamamos lixo. É comum esse tipo de bar mudar de lugar ou fechar e abrir anos depois. Geralmente esses bares, como o Szimpla Kert, um dos mais famosos, ocupam um prédio inteiro e a exploração do lugar inclui passar por diversos ambientes com clima, cores e música diferentes. O Instant também é bem conhecido, mas apesar de por fora parecer bem "arruinado", por dentro é mais arrumadinho (um simples papel de parede já carateriza isso). A rua Kazinzy tem vários pubs super legais, entre ruin pubs e outros nem tão ruin assim, alguns em espaços abertos, que fecham no inverno, e visivelmente mais novos. Dava pra passar uma temporada em Budapeste só visitando os pubs de lá, que muitas vezes funcionam o dia inteiro.


Vi e não gostei: Horror House. A Horror House é famosíssima pelo que expõe e pelas críticas q sofre. Apesar disso, quando passamos lá em frente tive muita vontade de entrar. E acho q é isso mesmo q mais me incomodou por lá, a intenção de chamar atenção é muito grande e notória. O museu trata das décadas de horror vividas pela população do país de meados até o fim do século XX, em decorrência da II Guerra Mundial, nazismo e regime comunista que dominaram o cenário por lá. Não há dúvidas de que esse cenário foi extremamente cruel e triste. O que me incomodou foi os criadores daquele museu acharem que precisam colocar uma música de rock pesado pra fazer com que as pessoas sintam que o que aquele povo viveu foi realmente horroroso. Eu acho que esse assunto é suficientemente horroroso por si mesmo, não precisa de qualquer artifício pra colocar os observadores num determinado estado de tensão. Nas paredes, praticamente só se lia húngaro e isso também me distanciou da exposição.  Saí de lá como se não tivesse entrado e por isso me arrependi um pouco de ter perdido aquele tempo por ali.

Não vi e acho q gostaria de ter visto: Parlamento. Chegamos lá e ficamos um bom tempo observando e fotografando aquela construção lindíssima. Por dentro, pelas fotos, tudo parece lindo também, mas quando chegamos à bilheteria, descobrimos que aquele dia não haveria visitas porque estava acontecendo um evento especial lá dentro. Na próxima vez que formos a Budapeste procuraremos olhar com antecedência a agenda deles. Porque certamente haverá uma próxima vez.

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